Mais de 500 quilômetros separam a capital baiana do município de Teixeira de Freitas, cidade que abriga o Programa Arboretum e de onde vieram mais de 600 mudas e mil sementes de espécies nativa da Mata Atlântica para serem distribuídas durante a Semana do Clima da América Latina e Caribe (Climate Week), realizada de 19 e 23 de agosto, no Wet'n Wild, em Salvador. Com nenhuma avaria, e muito bem hidratadas, o engenheiro florestal do programa Arboretum, Samuel Góes, exibe com orgulho as plantas e explica que a resistência ao longo trajeto se deve à qualidade das mudas desenvolvidas pelo programa.
"Essas plantas vieram para Semana do Clima com o intuito de mostrar que não estamos desconectados com a natureza. Por mais que as pessoas estejam morando em apartamentos, ou em casas com pouco espaço, mesmo naquele meio metro de sacada elas estão produzindo. E temos mudas aqui tanto de pequeno, médio ou grande porte. Por mais que construíram essa floresta de pedras, é da nossa natureza essa conexão e as pessoas ainda resistem", disse Samuel.
Corroborando com a expectativa do engenheiro florestal, a demanda pelas sementes e mudas é constante durante todo o dia no estante da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). A exemplo do contador Coriolano Bahia Lima, que escolheu as sementes de Murici, do Brejo e Aroeira, próprias para plantio perto da praia. "Essas sementes eu vou plantar no Parque de Pituaçu, desde jovem eu planto árvores na cidade de Salvador, em Stela Mares, por exemplo, tem vários coqueiros plantados por mim", disse Coriolano, que também cultiva uma horta comunitária em seu condomínio.
Já para estudante do curso de Geografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Everlyn Coelho, a escolha recaiu por sementes e mudas de árvores de grande porte, por possuir uma extensa área no terreno de sua casa. “Eu procurei aqui mudas de porte grande, frutíferas, porque no espaço que eu tenho na minha casa elas atraem muitos pássaros. Acho importante replantar espécies de árvores que existiam aqui e não encontramos mais, e estou engajada nesse processo de reflorestamento, em fazer a minha parte. Achei muito atrativa essa proposta do Arboretum, em disponibilizar mudas para que a gente possa plantar em casa ou em outros lugares que eu achar adequado, como perto de rios e lagos”, disse Everlyn, que já cultiva em sua vida a prática do reflorestamento.
Durante todos os dias do evento, o público do Climate Week encontrará disponíveis mudas de Pitanga Preta, Jequitibá, Sapucaia, Ipê Roxo, Jussara, Pequi, Quaresmeira, e sementes de Murici, Aroeira, Tucaneiro, Boleira, Vinhático, Jacarandá da Bahia, de espécies madeireiras e frutíferas, produzidas pelo programa. O Arboretum é um programa interinstitucional que tem como objetivo a conservação, restauração e valorização da diversidade arbórea da Mata Atlântica. A Sema e o Inema compõem o conselho gestor do programa, proposto pelo Serviço Florestal Brasileiro, com apoio do Ibama, e viabilizado por meio de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) pelo Ministério Público da Bahia.
A Assistente Administrativa do Arboretum, Marina Rosa de Souza, que também é responsável pelo Laboratório de Sementes, explica para os visitantes da Semana do Clima como funciona o programa. "O Arboretum trabalha diretamente com alguns assentamentos que chamamos de Núcleos Comunitários de Coleta de Sementes, são comunidades que estão próximas a fragmentos florestais conservados. Eles são capacitados para aprender a coletar as sementes, fazer o beneficiamento e marcação de matriz com ponto de GPS. Nós compramos as sementes desses produtores fazemos o processo de análise para ver se a semente está viável ou não, e produzimos as mudas a partir dessas sementes, que são enviadas novamente para os Núcleos Comunitários para que eles possam produzir e comercializar as mudas," explica Marina, acrescentando que desde 2013 já passaram pelo Arboretum mais de 400 espécies de plantas nativas da região, atualmente, o viveiro da instituição possui 300 espécies diferentes de mudas.